Eis que sobreveio o golpe. Meus olhos não puderam prever tal ofensa de deslealdade. Julgaria o infame e apontaria o desvirtuoso, se ao menos pudesse indicar de que penumbra me surpreendeu. Há muito sabia que não poderia me valer destas estreitas vielas e becos, mas meu sangue clamava por doses maiores de emoção, em um gelado copo com vodca e limão. No momento, estava bem claro que estaria bem servido essa noite, com uma dose maior que esperava. Meus olhos percorreram todo o beco, e nada se via, além de latas transbordantes de lixo, com seu característico aroma fétido, e muros pichados por gangues locais em grafite gasto e sem vida. Busquei pelos sons, já que minha vista turva não ajudara, e das sombras frias, agudos miados de gatos pedintes se mesclavam com as longínquas sirenes da cidade. Nada havia por fim, mas sentia sua presença sinistra no ar, como densa fumaça sufocante, e até ouviria sua forte gargalhada se me permitisse sucumbir ao temor. Estava claro, a caçada havia começado, no entanto bastava definir quem era gato e quem era rato, nessa dança fantasmagórica de terror intangível...
07 de Setembro de 2010
Diário de Sebastian Bouvié.
Pag. 13
Pag. 13
Me delicio com cada texto seu ... Quando entro no Contos da tempestade não consigo parar de ler e me emocionar. Fico com água nos olhos.
ResponderExcluirMeu bem, você é simplesmente fantástico!
Nossas almas compartilham paixões tão parecidas, angústias tão semelhantes (...)
Você como sempre, esplêndido! Parabéns!
Finalmente narrativas.
ResponderExcluirAi está um projeto novo. Vou começar a postar os fragmentos do diário do nosso amigo, um vivente da cidade de Nova Orleans. Espero que gostem dos contos de Bouvié.
Grande Abraço