E eis que me veio turbulenta segunda-feira, e durante o entardecer, dei-me conta que por mais que meus olhares se perdessem no horizonte observando folhagens verdes sendo tocadas pelo carinhoso vento, era o seu rosto delicado que meus olhos desenhavam sob o céu com o entrelaçar de nuvens, ou com folhas soltas das copas dos arbustos, ou até mesmo com a ligação de cada celeste astro, que teimosos, atravessavam minha visão propositalmente. Perguntas vieram, junto a desejos bobos e triviais... Em planos a dois me perdi a pensar, e de tantas alegrias me preenchi. Suspirei futuros incertos, dois copos sobre uma mesa, estrada de duas mãos, Yin e Yang... No entanto, a tristeza também me visitou logo ao anoitecer, junto ao frio de noites costumeiras. Do lados nada se via, só o sufocante desejo de ter seu sorriso presente para poder me vangloriar e me deleitar na mais profundas noites de uma existência incompleta...
Aproxime-se
Seja bem vindo aos meus humildes aposentos. Por favor, peço que se sinta a vontade, não se acanhe. Aprecie um bom vinho e me ceda a honra de aproveitar esse nebuloso dia com o prazer de sua companhia.
Ah! Claro é impressionante o quão belo pode ser uma tempestade ... Muitos diriam turbulenta, trágica ou até mesmo aterrorizante. Eu, no entanto, daria o deleite de elencar como mera prosa e poesia...
terça-feira, 24 de maio de 2011
Fragmentos do Diário Bouvié – Pag. 14
Três e dezoito da madrugada. Quem dera se Morfeu pessoalmente viesse para arrebatar-me aos braços do Sonhar, no entanto, foi a angustia embebida em pura euforia que bateu a minha porta. Por esse inusitado motivo, não deixaria de apresentar hoje meus companheiros, tão fieis a prolongadas noites... Meus suplicantes olhos vermelhos, antagônicos eternos de minhas exaustas pálpebras; as velhas olheiras, que de tão perfeito palco, permitem-se sediar tal briga; e por fim, a desenfreada paranoia... Plateia alerta e exigente por um belo combate. Assim vem sendo cada noite após minha última experiência na viela do French Quarter. Parece ser loucura, devaneio de uma alma crédula, que presa aos grilões de seu desejo, está entregue as travessas sombras de um inconsciente que se diverte com suas fantasias criadas, mas sei o que senti e sei que a muito vem acompanhando meus passos.
Hoje ao retornar aos meus aposentos, por volta de meia noite e trinta, pude notar sutis diferenças em sua harmonia estática. Percorri brevemente o cenário com um lance de olhar, antes mesmo de render um passo adiante. Cama impecavelmente organizada, diário, caneta e notebook exatamente como deixara sobre o criado mudo, gavetas e armários inviolados. Por um momento me parecera paranoia habitual, mas meus traços obsessivos oferecem-me um olhar investigativo invejável, ao ponto de notar que outro abrira minha janela está noite.
Saquei minha Glock semiautomática adormecida sobre a cintura e com passos de felino, pronto para se ocultar sob a mata, fui até a janela que transparecia as luzes da cidade. De fato, não falhei em minha avaliação, as trancas haviam sido sutilmente forçadas, apesar de não haver indícios do material usado. Encostado a parede, com minhas mãos trémulas e vergonhosamente suadas, observei através da janela antes de retomar minha atenção para o quarto. Levantei o lençol branco tão bem posto sobre minha cama, para me defrontar apenas com meus gastos sapatos e com o alívio de nada encontrar. Contornei-a, e com passos curtos e suaves fui em direção à suíte. O coração parecia romper o peito quando o ranger acompanhou-se da abertura da porta. Nada havia, além de um box fumê que encontrava-se aberto , um armário, uma pia e um sanitário que mesclavam-se entre o branco e o tabaco. Retornando ao quarto, de imediato abri gavetas e armários em busca de qualquer sinal de violação que aliviasse meu temor e perplexidade...
Estava na última gaveta... A prova do infrator... Uma caixa de sapato preta que não reconheci. Prostrei-a sobre a cama. Pensei em não abrir, com medo do que poderia me vir de tão inofensivo objeto. Hesitei, no entanto, a vontade sobrepujou o medo e lentamente abri a caixa. Forrada por ceda vermelha, um peculiar objeto foi visto em repouso. O dourado reluzia como resposta a luz do ambiente, as falsas pérolas abrilhantavam os sofisticados detalhes, e em sua volta, plumas vermelhas contornavam a parte superior. Eis o símbolo do Mardi Gras. Uma máscara inexpressiva, olhar profundo, vazio e de doce e singelo ar sombrio que contamina a alma com as mais diversas perversidades. Vaguei o olhar sobre a luminária do quarto buscando por respostas racionais que me levassem a justificativas. Sentei sobre a cama com a máscara em mãos, olhando para sua fronte perdido em pensamentos, e mal pude notar que a caixa havia caído ao chão. Ao levantar os olhos e fitar a caixa sobre o chão frio, percebi que a máscara não era o único objeto me presenteado...
12 de Setembro de 2010
Diário de Sebastian Bouvié
Pág. 14
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Fragmentos do Diário Bouvié - Pag. 13
Eis que sobreveio o golpe. Meus olhos não puderam prever tal ofensa de deslealdade. Julgaria o infame e apontaria o desvirtuoso, se ao menos pudesse indicar de que penumbra me surpreendeu. Há muito sabia que não poderia me valer destas estreitas vielas e becos, mas meu sangue clamava por doses maiores de emoção, em um gelado copo com vodca e limão. No momento, estava bem claro que estaria bem servido essa noite, com uma dose maior que esperava. Meus olhos percorreram todo o beco, e nada se via, além de latas transbordantes de lixo, com seu característico aroma fétido, e muros pichados por gangues locais em grafite gasto e sem vida. Busquei pelos sons, já que minha vista turva não ajudara, e das sombras frias, agudos miados de gatos pedintes se mesclavam com as longínquas sirenes da cidade. Nada havia por fim, mas sentia sua presença sinistra no ar, como densa fumaça sufocante, e até ouviria sua forte gargalhada se me permitisse sucumbir ao temor. Estava claro, a caçada havia começado, no entanto bastava definir quem era gato e quem era rato, nessa dança fantasmagórica de terror intangível...
07 de Setembro de 2010
Diário de Sebastian Bouvié.
Pag. 13
Pag. 13
segunda-feira, 9 de maio de 2011
O Vir Da Alvorada
Últimas das badaladas no ar...
Silêncio, dor e temor no peito...
Coração apertado de jeito,
Amparo busca no luzir lunar.
A doce bruma se estenderá...
Grilhões lançará sobre alma...
Pertubando morada de calma,
No aguardo do por vir, que virá.
E virá nos segundos soprados
Noite adentro em badaladas.
No uivar dos ventos fatigados
No rubro odor da alvorada.
Em um coração amargurado
Toca a última badalada.
Silêncio, dor e temor no peito...
Coração apertado de jeito,
Amparo busca no luzir lunar.
A doce bruma se estenderá...
Grilhões lançará sobre alma...
Pertubando morada de calma,
No aguardo do por vir, que virá.
E virá nos segundos soprados
Noite adentro em badaladas.
No uivar dos ventos fatigados
No rubro odor da alvorada.
Em um coração amargurado
Toca a última badalada.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Fases
Amores vêm e vão como a maré.
Cabe a mim, apenas, torná-los apreciáveis e inesquecíveis.
Digamos que quero apreciar a maré, como lua cheia a tocar o mar,
E a espera do amanhecer iria ficar, mirando a maré a baixar.
Onde, o sol chegaria para tomar seu posto, deixando-me descansar
E ai... Esperaria uma nova maré, mesmo não sendo a mesma lua a apreciar.
Mesmo que minguante estivesse em minha tristeza...
Mas logo, seria nova lua, e em fim crescente estaria
Esperando apenas que estivesse cheia e plena novamente...
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