Aproxime-se

Seja bem vindo aos meus humildes aposentos. Por favor, peço que se sinta a vontade, não se acanhe. Aprecie um bom vinho e me ceda a honra de aproveitar esse nebuloso dia com o prazer de sua companhia.

Ah! Claro é impressionante o quão belo pode ser uma tempestade ... Muitos diriam turbulenta, trágica ou até mesmo aterrorizante. Eu, no entanto, daria o deleite de elencar como mera prosa e poesia...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Marcha

Rufam os tambores, rústicos tambores,
Como o rugir de um rei, ríspido rei.
Rito de ardores, rítmicos louvores,
Para ruínas rupestres rumar-me-ei.

Erguem-se as rubras bandeiras, com gritos.
No trovejar do trotar, segue a tropa.
Trombetas travam conflitos nunca vistos,
Na quente aurora que na relva toca.

Armaduras reluzem o som da glória.
Justas lâminas por um sonho vem clamar.
No horizonte faz morada a vitória,

E nos olhos a esperança do retornar
Da mortalha fria de campos amargos,
Ao amparo doce dos braços amados.

sábado, 23 de abril de 2011

Canções Inaudíveis



Os ventos gélidos sopram canções que eu não quero ouvir,
E na mais profunda escuridão da noite
A fina lâmina prateada que rompe delicadamente o céu,
Não consegue, com seu suave fio, apunhalar a dor do peito.
Pelo contrário, sua vigorosa luz me reporta, delirantemente,
Como um portal aberto em meio à imensidão do céu,
Ao mais oculto e íntimo de minha alma.
Com silenciosos passos leves, tateio o chão espectral do imaginário,
E entre as fantasias oníricas que me cercam,
Adentro a fortaleza fantasmagórica onde impera a angústia.
Os ventos gélidos sopram canções que eu não quero ouvir,
Mas são os olhos que vêem o que não desejam.
Na égide fria de um cristal, pulsa um pulso suave...
Pulsa um pulso distante... Pulsa... E pára... Frágil.
Os olhos que fitam, estremecem e entristecem,
E nos cantos úmidos, deixam escorrer gotas límpidas do mar,
Mas o sal contido nelas não purifica, ele julga, condena.
Pois, quando forjara uma segura proteção,
Selara também com o medo, o coração em uma prisão.
E agora...
Meu coração sopra canções que eu não posso ouvir...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Amargos Dias


Revi algumas fotos, assisti a alguns vídeos
E por pouco, não me peguei com lágrimas nos olhos...
Em uma das janelas contemplei o horizonte
E dei-me conta de não ser o que esperava...

Longe estou de onde queria estar, onde esperaria estar.
E sobre esta distante estrada a que me encontro,
Repenso o que me trouxe até aqui...
Nada suficiente a prender-me por estas terras.

Os sonhos viraram mecânica torpe e desfez-se o sentido,
Os desejos perderam-se no fogo do esquecimento,
As motivações se foram, ficando arraigadas as pedras no caminho,
Não me restando destas, nem o pó que um dia as cobriu.

Velei meus olhos com venda intransponível e impenetrável,
Para que alienado estivesse diante dos anos que virão no
Insuportável por vir. Assim, embebido nesse torpor, quem sabe
Aceitarei a realidade a que me propus encarar em tortuosos dias.

Porém, é em distante vale de águas turvas que minha vida corre.
Cabe-me decidir entre ser o Alfa ou o Omega, pois a divindade
De ambos não me é lícita.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A Ninfa E O Menestrel

Quantos cânticos de amor já entoaram meus olhos
E todos perderam o tom na harmonia de um único sorriso.
Quantos abraços calorosos apreciei ao soneto de teu respirar,
Sendo o meu respirar, o despertar desse devaneio divino.


Aparei as pétalas de tuas lágrimas entre os dedos
E sutil foi o toque sob teu queixo para assim confortar-te.
Foram tantas vezes, que perdendo a conta, julgaria real,
Mas seco os dedos estão, e ausente sempre jaz de teu perfume.


Toca-me, virgem ninfa de semblante sereno
Com teu olhar fugaz de tão pura inocência.
Arrebata-me o corpo, a alma e a essência
Ao seu celeste céu de inebriante veneno.

Pois, desde muito, já não me vale o lírico dos pássaros
Que antes agraciava-me com as feições de tua beleza.
E por muito, foi-se o lírio vivente de tua poesia
Que órfão a cítara deixou, ao deleite do buscar-te.


Toca-me, virgem ninfa de imaculada soberania
Faço-me servo do pecado dos teus nocivos lábios.
Em travoso mel arriscaria embriagar-me, entorpecer-me
Por mais que restasse o fel da lembrança de ter provado de ti.


Apenas uma vez...